O avesso da vida

Minha mãe sempre dizia que para saber se uma costura tinha sido bem feita, devíamos olhar como estava seu avesso.

Segundo conta, ela tinha aprendido isso com sua mãe, minha avó, e eu me questionava se aquilo fazia algum sentido. Afinal, quem iria ficar olhando o avesso das coisas?

E hoje, observadora da vida que me tornei, começo a perceber a importância do lado avesso de nós.

Nossos avessos podem ser vistos como reveses, as voltas inexplicáveis que a vida dá para nos mostrar aquilo que precisamos ver; ou como nossas entranhas, aquelas partes que ocultamos de nós mesmos, na tentativa de nos protegermos do complexo sistema que somos.

Enquanto reveses, descobri serem mera ilusão.

Peguemos a palavra na dicionário (fonte www.dicio.com.br):

Significado de Revés

substantivo masculino

Que está ou aparenta estar numa posição oposta à normal.
Circunstância desagradável; situação inesperada que faz com que algo bom seja transformado em ruim; infortúnio.
A parte prejudicial de alguma coisa: a ignorância é o revés da evolução.
Pancada ou golpe feito com o lado oposto (as costas) da mão.
Pancada ou golpe deferido de maneira oblíqua.
Ação de substituir uma pessoa ou coisa por outra(s); revezamento.
Essa pessoa ou coisa substituída. locução adverbial Ao revés. Ao contrário.

Etimologia (origem da palavra revés): do latim reversu.m.

Conforme vamos entendendo o sentido da vida (e ele é inevitavelmente evolutivo, ou como gosto de dizer, #proaltoeavante), percebemos que:

  1. Normal não existe. Estas classificações que inventamos são culturais, subjetivas e voláteis. O que era normal para você há um ano, hoje já pode estar totalmente obsoleto.
  2. Quando encaramos o inesperado com aceitação (e para praticar a aceitação convido você a participar deste desafio aqui) as coisas se tornam menos traumáticas – e por vezes até divertidas!
  3. Não há golpe que nos afete, sem que seja promovido por nós mesmos. A palavra do outro só machuca após receber doses maciças de interpretações e suposições nossas, embebidas em nosso próprio veneno do medo.
  4. A vida é feita de mudanças e naturalmente ocorrem substituições. Isto não quer dizer que aquilo que vem é igual ao que se foi. São sempre experiências de alguma forma diferentes. E todas são válidas e necessárias.

Agora vamos olhar para as entranhas, começando por seu significado:

Significado de Entranhas

substantivo feminino plural

Intestinos, tripas, a reunião dos órgãos que estão situados no interior do ventre de uma pessoa ou animal.
[Figurado] Parte interior e mais profunda de: as entranhas da terra.
[Figurado] Reunião das caraterísticas particulares de alguém; sensibilidade, ânimo: esse negócio revolveu-lhe as entranhas.
Designação atribuída ao útero materno: sentia a criança se mexendo em suas entranhas.

Etimologia (origem da palavra entranhas): plural de entranha.

É sabido que temos um segundo cérebro no intestino. com um sistema nervoso complexo, não tão vasto como o cerebral, mas com as mesmas células em menor quantidade. Nossas entranhas são capazes de nos revelar informações preciosas, a respeito de nós mesmos e de tudo o que nos cerca.

Você já deve ter sentido frio na barriga de ansiedade, borboletas no estômago de alegria, dor de barriga de medo.
Todos estes órgãos reunidos, trabalhando para nossa digestão de alimentos e sentimentos.

Tenho falado bastante da importância de abençoarmos a comida, de comermos sem culpa, dado que os sentimentos envolvidos no exercício da alimentação também são ingeridos e processados por nosso sistema.
(Para acessar tal conteúdo acesse aqui, aqui e aqui).

Mas voltando à entranhas, elas são nossa parte mais profunda e sombria, aquela que nos proporciona o maravilhoso exercício de nos iluminarmos.

Mexer nelas não é trabalho fácil nem prazeroso. Nossos miúdos são melequentos, delicados e doloridos.

Como na definição acima, envolvem nossa sensibilidade e ânimo, e são muito particulares. Ninguém além de nós mesmos entende nossas entranhas. Porque cada um tem seu conjunto, dotado de memórias, emoções e experiências, com um sistema nervoso único, suas dores e seus amores.

Olhar para o nosso avesso não é tarefa para qualquer um. Passamos anos e anos (senão décadas ou vidas, pra quem acredita) evitando este movimento.

Olhamos para fora, na tentativa de escaparmos de nós mesmos.
Assim, apontamos, criticamos, julgamos, e também criamos mil estratégias, jeitos e formas de melhorarmos ou corrigirmos…  a vida do outro! E não a nossa.

Falar do outro, avaliar, examinar seus erros, equívocos e derrapadas é tão fácil, que parece natural e tornou-se um hábito. Numa sociedade em que há mesas redondas de discussão da vida pessoal e profissional do outro, quase não nos sobra tempo para fazermos o mesmo com a nossa.

Estamos a todo momento resolvendo o problema do outro, salvando o outro, fazendo pelo outro, na esperança de que um salvador venha e faça o mesmo por nós, faça nossa lição de casa e gabarite a prova por nós.

Somos como aquele frango, cujo destino é ser assado, e que tem suas entranhas reviradas e limpas por um terceiro, e que por conta disto sente-se aliviado porque nunca terá que mexer nelas.
Ele morre no final, mas em contrapartida tem a sorte de não ter que lidar com suas entranhas, o que, para ele, parece um ótimo negócio.

Por que muitos de nós prefere morrer a encarar seus miúdos, suas sombras, os segredos de sua alma?

Somos lindos também do avesso. Trazemos ranhuras e ramificações que somente olhando nosso ser a partir do nosso interior podemos apreciar.

Há tanta beleza na luz quanto há em nossas sombras.
Porque as sombras nos revelam nossa capacidade de iluminar e de dar à luz uma visão muito mais completa e perfeita de nós mesmos.

Quando você tomar coragem de olhar o seu avesso, verá que ele é perfeito, que o Criador não dá ponto sem nó.
Descobrirá que enfrentar seu acabamento é, na verdade, uma forma de recomeçar totalmente novo e muito mais alinhado com as costuras do seu Eu com o tecido da sua Alma.

 

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  • Maravilhoso!!! Acho que no nosso avesso muitas vezes também guardamos a nossa essência e, através do autoconhecimento, quando a reconhecemos, podemos externá-la e fazer dela o nosso “lado certo”.
    Gratidão!

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