Outro dia, num dos encontros do DreamPeak (um dos meus projetos de coaching e mentoria em grupo para desenvolvimento do autoconhecimento e das habilidades co-criativas), comentei que estava trabalhando algumas das minhas sombras nestas últimas semanas.

E um participante perguntou “Mas o que são as sombras, Ana?”

Respondi que sombras são características, qualidades (geralmente aquelas que carimbamos como negativas) que fazem parte do que somos, mas que relutamos muito em aceitar, olhar, acolher. É aquela parte obscura de nós: medos, inseguranças, tudo que é “feio” ou que temos vergonha de trazer à tona, e evitamos ao máximo olhar – quem dirá mostrar aos outros. Enfim, é a parte de nós que nós mesmos abandonamos.

Somos seres de luz, e fazemos sombra nesta luz que carregamos em nossa essência. A sombra nada mais é que uma cortina, um véu colocado por nós mesmos entre nós e a Fonte (aqui, chame como quiser: Universo, Deus, Buda, Sabedoria Infinita).
Ao não nos amarmos, conhecermos verdadeiramente nem aceitarmos por inteiro, geramos as sombras.
Certa vez, um guia de luz me disse que nossa única e verdadeira missão é, no momento presente, olhar para trás, para absolutamente tudo o que nos aconteceu, e perdoar, acolher, aceitar e observar com as lentes do amor todos os fatos, pessoas e situações, que nos trouxeram e auxiliaram a ser exatamente quem somos hoje.

No livro O Efeito Sombra, temos a seguinte definição:
“O que é a Sombra? Bem, a Sombra é tudo aquilo que não queremos ser, mas somos. É aquele sentimento escondido de todos, e aquele desvio de comportamento que uma pessoa considerada boazinha possui. É o desejo de se entregar ao vício, de explodir, de brigar. É toda a energia que tentamos não ter. Porém a Sombra é parte nossa, é algo bom. Escondida, pode transformar-se em maus pensamentos. Mas descoberta e compreendida, a Sombra nos levará ao caminho da plenitude! Sairemos da ilusão de que nossa obscuridade nos dominará e, em vez disso, veremos o mundo sob uma nova luz. A empatia que descobrimos por nós mesmos dará ignição para nossa confiança e coragem à medida que abrirmos nosso coração a todos ao nosso redor. O poder que desencavamos nos ajudará a confrontar o medo que esteve nos segurando e nos incitará a seguir adiante, rumo ao nosso mais alto potencial. Longe de ser assustador, abraçar a sombra nos concede uma inteireza, permite que sejamos reais, reassumindo nosso poder, libertando nossa paixão e realizando nossos sonhos.”

Segundo a Kabbalah*,  a oportunidade de trabalharmos nossas sombras é a mais perfeita forma de nos conectarmos com a luz, portanto, nosso maior presente.
E uma das maneiras de descobrimos quais são essas sombras é percebermos que lições sempre vão e voltam em nossa vida: quais são os padrões repetitivos que nos limitam ou impedem de viver uma vida mais leve e fluida.
A lição pode vir ao nos darmos conta de que estamos sempre a atrair um parceiro controlador, ou relacionamentos pessoais que não se aprofundam, ou pessoas que não nos respeitam, e por aí vai.
No cerne desta questão estão suas crenças e a maneira como você se vê – e consequentemente vê o mundo ao seu redor.

Nossas sombras muitas vezes são trazidas por novas situações ou acontecimentos, que nos remetem a dores muito marcantes e feridas abertas do passado. Um novo evento, aparentemente inofensivo, é capaz de nos jogar de volta num filme dramático antigo, trazendo um turbilhão de emoções negativas à tona. Somos nós, dirigindo nossa vida no automático e encarando o novo pelo retrovisor. Nestes casos, as emoções nos impedem de olhar pra frente, e encaixamos ou comparamos a nova situação com eventos passados, o que nos traz dor e confusão mental.

O caminho que leva às sombras é solitário, e pode parecer sombrio, doloroso e longo. Porque é, sim, um caminho estreito, e ninguém poderá caminhar ao seu lado até lá. Assim como não há nada além de você mesmo entre você e sua luz, entre você e sua sombra também só há espaço para uma pessoa – você – caminhar, mergulhar e explorar.
O que não quer dizer que você não possa procurar auxílio durante o processo. Mas no momento em que você tiver que entrar em ação, é o seu movimento que conta.

Trabalhar nossas sombras requer paciência, altas doses de autoamor, e a consciência e ciência de que é um processo, ou seja, a mágica não acontece da noite pro dia.

Primeiro identificamos o padrão, escolhemos olhar para ele com amorosidade. Refletimos sobre o que em nós atrai aquela determinada situação que nos machuca. Trabalhamos nestes pontos, revisitando nosso passado, nossas atitudes, pensamentos, sentimentos e ações. Véus e fichas vão caindo, começamos a entender que as coisas podem ser diferentes, e que o movimento da mudança depende exclusivamente de nós.
Deliberadamente, escolhemos começar a fazer diferente – encarar o desafio de outro modo, sentir, pensar e falar sobre ele de uma nova forma.

E então podemos começar a reescrever nossa história.
Afinal, esta é a sua vida, de mais ninguém. No fim das contas é você com você. Você com seus problemas, dilemas, padrões, amores e dores.

Somente você sabe o que sente, o que vive, o que passa.
Somente você tem as chaves para as portas que deseja abrir.

E, sim, é você quem irá escolher cada uma dessas portas que irá atravessar.

 

Nota da Ana: Estou, neste momento, paralisada num dos meus mais incríveis batentes. A porta é linda, grande, imponente. Eu me sinto ao mesmo tempo pequena e curiosa, cautelosa e louca de vontade de atravessar para o outro lado. É um momento complexo e lindo, de dor e amor, confusão e compreensão. Sim, a porta está aberta, esperando pelo meu caminhar. Até quando ficarei aqui? Não sei dizer, mas há grandes chances de você, que me acompanha por aqui, descobrir junto comigo 😉

 

*Dica incrível de livro para saber mais sobre a Kabbalah: O Poder da Kabbalah