Se você está lendo isto, provavelmente já se decepcionou com algumas pessoas, situações e fatos. Coisas que o fizeram chorar, sofrer, que trouxeram à tona sentimentos que você não gosta de experimentar, emoções controversas e difíceis de entender e explicar.
Quando algo nos machuca, inconscientemente tendemos a replicar aquele ato ou atitude. Com nós mesmos, com quem nos feriu e até com outras pessoas que nada têm a ver com o ocorrido. E normalmente nem nos damos conta de que estamos fazendo isso.
Passamos a nos punir por haver acreditado em alguém, porque nos sentimos culpados, nos julgamos ingênuos, desinteligentes – para não usar os termos reais e nada fofos que costumamos usar conosco nestas situações (como sou burro, que idiota, eu mereço mesmo, só tomo na cabeça, isso sempre acontece comigo… e por aí vai)
Já percebeu?
Alguém trai sua confiança e VOCÊ adota uma postura de desconfiança diante de si mesmo, daquela pessoa, de tudo e de todos.
Alguém marca com você e fura e VOCÊ passa a se atrasar ou a descumprir os horários combinados com você mesmo e com os outros, para que não seja mais feito de bobo.
Alguém desvaloriza seu trabalho e VOCÊ começa a duvidar de si mesmo, do seu valor, da sua capacidade, desmerecendo e desvalidando seus dons, talentos, esforços, sua trajetória e até a sua história.
Alguém se esquece ou deixa deliberadamente de celebrar junto com você uma data especial, e VOCÊ já planeja devolver na mesma moeda, para aquela pessoa “ver só como é bom”, sentir na pele o que você sentiu. E eventualmente começa a deixar de celebrar datas importantes para VOCÊ curtir junto a outras pessoas, já se precavendo de ser uma vez mais magoado quando chegar a sua vez.
Em todos estes exemplos, o que estamos fazendo?
Estamos pegando aquela dor, colocando fermento nela, fazendo com que ela cresça, encorpe e fique fortinha, e servindo-a bem quentinha a todos que cruzem nosso caminho.
E o que o outro a ver com a experiência que passamos e com a interpretação que escolhemos dar a ela?
Nada!
Mas aquela dor se tornou tão companheira, tão presente em nosso dia a dia, e está tão grande e robusta, que virou uma dor de estimação, ou um trofeu, uma conquista, que queremos mostrar, dividir com todo mundo.
Imagine agora que aquela pessoa que o frustrou ou magoou passou exatamente por este mesmo processo que você. Um dia, ela se decepcionou com alguém, e como mecanismo de defesa, para que não mais fosse machucada, adotou um comportamento-resposta na mesma moeda.
E assim vamos todos construindo e alimentando um mundo baseado no medo de sermos desapontados. E seguimos machucando as pessoas.
E o ciclo continua, cresce, e se perpetua.
Então como podemos mudar isto?
Fazendo diferente, ou dando a outra face.
E você pode pensar: Dar a outra face? Pirou, né? Eu que não vou ser tonto pra apanhar de novo, já aprendi a lição, nunca mais passo por isso! Tenho vergonha na cara, tenho meu orgulho.
E eu explico: Dar a outra face não significa apanhar de novo de outro ângulo, como soa ou parece num primeiro momento. Não levemos tudo ao pé da letra, mas reflitamos sobre as coisas com mais profundidade e amorosidade.
Dar a outra face significa se permitir olhar as coisas por outro prisma, olhar com outros olhos para novos fatos, situações e pessoas. Olhar de novo, e escolher interpretar de um jeito diferente.
É agirmos em consonância com nossa verdade, com aquilo que somos em essência, e não da maneira que passamos a fazer como mecanismo de defesa.
A melhor forma de não sofrer é parar de alimentar a dor.
Sim, a dor é importante, tem sua beleza, e faz parte integrante do nosso aprendizado. Mas, como qualquer de nossos fantasmas, é desaconselhável que seja alimentada com o melhor de nós: nossa energia, nosso tempo, nossos pensamentos, sentimentos e ações.
Tudo aquilo que alimentamos, em que colocamos nossa atenção, cresce e floresce.
Hoje, encare-se no espelho de cara limpa. Olhe nos seus olhos. Mergulhe neles sem pudor, converse consigo mesmo, você é sua essência, cara a cara. Ouça sua voz, chore seu choro, reencontre-se com suas velhas feridas. Sim, você sofreu, mas agora é você, e só você, quem mais tem se machucado.
Então desta vez, dê a si mesmo a outra face.
Aquela que não mais se faz de vítima, e que sabe que pode escolher voltar a ser quem é. Sem necessidade de reviver o passado. Nem de retribuir dor ao outro. Agindo autenticamente, da maneira como naturalmente agia antes de ser machucada.
Observe essa sua outra face. Pura, leve, sem filtro.
Essa pessoa é você. Essa é sua verdadeira face.
E é lá que sua paz, sua felicidade e sua alegria de ser habitam.
Desde agora e para sempre.
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