Sobre nossas dificuldades em lidarmos com as nossas sombras

Sobre nossas dificuldades em lidarmos com nossas sombras, ou o que rotulamos de “mau”, “errado”, “sombrio”.

Tenho refletido muito sobre nossas polaridades e dualidades, sobre as dificuldades de aceitarmos alguns pontos que fazem, como um álbum de figurinhas, “parte integrante de nós e não podem ser vendidos separadamente”.

Gostamos de nós quando vencemos, quando estamos contentes, quando o humor está bom, quando tudo sai como planejado, quando o sol brilha, as pessoas são cordiais e os pássaros cantam.

Por outro lado, nós nos odiamos, recriminamos ou desdenhamos de nós mesmos quando pensamos que erramos, que falhamos, quando não somos ouvidos como gostaríamos, quando alguém emite uma opinião negativa ou até tosca sobre nós, quando não nos sentimos aceitos, amados, valorizados, reconhecidos.

O mundo é incrível – mas só quando estamos vivendo um dia de comercial de margarina!
Quando o pão cai com a manteiga virada pra baixo, naquele pedaço de chão que seu cachorro acaba de lamber, o tempo fecha na hora: tudo fica cinza, as vitórias são apagadas, as bênçãos esquecidas e o caos se instala: “Não tenho sorte mesmo, pensamos imediatamente. “Por que tudo acontece comigo?”

“Nada funciona pra mim” ou “eu sempre faço tudo errado”

Vivemos num mundo de dualidades, para que possamos sentir e experimentar os extremos, diferenciando um do outro.

Não existiria o quente sem o frio, o alto sem o baixo, a noite sem o dia, o inverno sem o verão.
Nosso problema é que, contra o fluxo natural das coisas, desejamos congelar os estados que preferimos e eternizá-los.

Num mundo perfeito, pensamos, eu estouraria de ganhar dinheiro todos os dias, só teria os melhores clientes, estaria surfando no topo da onda o dia todo... e por aí vai.

Um exemplo simples aqui: pense agora em quantas e quantas vezes não estamos por algum motivo qualquer tristes, e outras pessoas, no intuito de nos acolherem e na tentativa de encurtarem ou amenizarem nossa dor, nos dizem: “não fique triste, não chore, não quero ver você assim”.

Aposto que já fizemos parte dos dois papéis: o da pessoa tristonha, e o da pessoa consoladora.

Mas vamos parar e refletir:
Por mais que isto aparente carinho, amor e compaixão, vamos combinar que a frase “não quero ver você triste” é no mínimo egocêntrica rs.

Se eu estou com vontade de me acabar em lágrimas, não posso então fazê-lo porque as pessoas que me cercam não querem (ou não estão preparadas) para me verem chorar?

O mesmo raciocínio vale quando estamos na outra ponta: sério mesmo que vamos reprimir a pessoa que amamos e bloquear a emoção que, naquele momento, ela deseja (e seu corpo precisa) transbordar, pelo simples fato de que não queremos vê-la triste / chorando / na polaridade do que consideramos “ruim” ou “negativo”?

É como se comandássemos ao Criador que o sol ficasse a pino o dia todo, durante todos os dias das nossas ferias, para que pudéssemos aproveitar os dias ao máximo, nos esquecendo de que nenhum ser sobreviveria a isso, e que a em da verdade, isso não seria nada gostoso ou divertido.

E se no lugar desta censura aos sentimentos e emoções, pudéssemos finalmente começar a nos expressar com liberdade e verdade?

Sempre me pergunto por que podemos coçar alguns partes do corpo em público sem problemas, e outras não.

Quem inventou quais partes do corpo são neutras ou honrosas, e quais são impuras, e causam horror ou ojeriza à opinião pública ao serem tocadas em público. Alguém, em algum momento, teve um ponto de vista, emitiu uma opinião, inventou esta regra e todos as compraram, sem questionar, sem refletir, sem se perguntar se aquilo fazia ou não realmente sentido.

Com quantas coisas, regras, diretrizes, dogmas, leis, enfim, com quantas informações estamos fazendo a mesma coisa?!

Voltando ao tema central deste artigo…

Como seria seu dia e sua vida se você chorasse quando tivesse vontade, comesse quando estivesse com fome, pudesse dormir quando sentisse sono, gargalhasse quando seu coração pedisse?

Quantos sapos na garganta seriam evitados se você pudesse emitir sua opinião sincera e respeitosa quando tivesse vontade, se pudesse dizer SIM quando desejasse dizer SIM, e dissesse NÃO quando quisesse dizer NÃO?

A quantas reuniões de família você teria deixado de participar, sabendo que ninguém te julgaria, condenaria, execraria elo fato de você simplesmente não estar a fim de participar daquele churrasco, almoço ou festa de aniversário daquela tia com quem você não tem afinidade nenhuma, ou daquele primo que você mais ama, mas que por um motivo qualquer, naquele dia em especial, você preferiu estar na sua própria e exclusiva companhia – só você, seus pensamentos, uma tacinha de vinho e seu livro predileto?

Como seria um mundo no qual nós e nossos corpos, mentes e corações reatassem, comungassem, trabalhassem mais e mais em conjunto, com base nas nossas reais vontades e nos mais honrosas e naturais desejos?


Se você já dormiu até acordar, e gargalhou até suas bochechas doerem e até seu abdômen ter cãimbras, você sabe do que estou falando. É você, um ser natural (sim, porque é isso que você é, embora nos esqueçamos e fiquemos muito mais no módulo Human Doing do que Human Being).

Como será que seria sua vida, a sociedade, o mundo, nossa realidade se nos permitíssemos sermos mais humanos e mais de verdade? Com menos regras de terceiros, menos máscaras, menos interpretações? Com mais verdade, mais amor, mais espontaneidade?

Este artigo vem te fazer um convite.

Por e para uma vida com menos “não chore, não quero ver você triste” e muito mais “não precisa fingir mais, seja você que eu te aceito, respeito e estou aqui para sentir e ver você de verdade, sem julgamentos”.

Por e para um mundo no qual faltar a uma reunião não signifique que você não ama mais sua família, ou que não os respeita / valoriza / estima.

Por e para uma realidade na qual possamos viver nossa humanidade por inteiro, e não mais pela metade – a metade “boa, ética, politicamente correta, como temos feito, e cujos resultados são um ser infeliz, incompleto, injusto consigo mesmo e com suas vontades, que como forma de defesa acaba cobrando, julgando, criticando e exigindo o mesmo dos outros.

Você aceita o convite?

E tudo bem se você neste momento escolher responder não.
Aqui é e sempre será um espaço livre de críticas ou julgamentos de suas escolhas.
Leve, divertido, fluido – como a vida pode ser.

E assim é – sempre que você escolher!

O que você escolhe ser, experimentar e viver hoje?



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