A moça no espelho

Hoje, olhei pra moça no espelho e resolvi adotá-la como minha referência de beleza. 
Não pro mundo todo, só pra mim.
Com seus “defeitinhos” e peculiaridades: celulites, barriguinha positiva, marquinhas no rosto, riozinhos de sangue azul nas pernas, axilas mais escuras do que aquelas sugeridas nos comerciais, dentes tortinhos, seios menores do que os que a moda prega – e que os sutiãs adesivos tanto lutam para modelar, mudar, aumentar, corrigir, na mais perfeita festa-do-estica-e-puxa, marquinhas de felicidade no cantinho dos olhos quando sorri – porque eles desde sempre sorriem com ela, em pura diversão e deleite.

Hoje, ao esbarrar no meu reflexo, logo antes de sair de casa, percebi que a moça do espelho me fitava com olhos de amor e compaixão, enquanto eu a reconhecia, observava, reencontrava, como se há muito estivéssemos – eu e ela – esperando por isso.

Combinei então com a moça do espelho de me permitir parecer cada vez mais com ela.

De fazê-la sorrir mais.
De olhá-la mais nos olhos.
De conversar mais com ela. Perguntar como foi seu dia, e o que ela pensa das coisas – e ouvir suas respostas calma e atenciosamente. 
Parar de compará-la, julgá-la, criticá-la.
Aceitá-la e amá-la do jeitinho que ela é.
Confiar nela, validá-la, honrá-la, respeitá-la. 

Quando eu era bem pequena, meu sonho era ser linda. E queria ter os olhos mais belos do mundo.

Hoje, tudo que eu almejo é ser cada vez mais una com a moça do espelho. 
Porque tudo que sempre busquei, ela já é, já traz e já tem.

Ana Paula Barros



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