Lembranças da infância que agora me iluminam

Quando meus pais ainda eram casados, e eu era menor (não em altura necessariamente, porque espichei cedo), meu pai tinha uma frase célebre, que usava sempre que deixávamos lâmpadas acesas sem necessidade em casa.
Ele via aquilo, se indignava e exclamava na mesma hora: “festival de luz acesaaaaa!” (Bem assim com ênfase no final).
E todos sabiam o que era pra fazer: desligar as luzes que não estávamos, de fato, usando.
Estou escrevendo isto porque moro hoje num sobradinho, tirei o dia pra cuidar de mim por conta de uma dor de garganta chatinha. Estava agora à tarde de pijama, lendo na cama, quando resolvi descer para comer canjica , enquanto me deliciava com um livro que ganhei.
A Nina, o cachorro que brinco ter nos encontrado na rua, estava procurando assunto no portão, e Leôncio Ramirez, nosso gato com nome e sobrenome, ao me ver descendo as escadas, rapidinho resolveu me seguir, na esperança de ganhar comida gostosinha – ele tem dois tipos de refeição durante o dia: a padrão (seca) e a gostosinha (com sachê misturado).

Mas voltando ao foco – e como adoro desfocar e expandir! Será que minha vista difusa vem daí?! – ao descer fui acendendo todas as luzes. E me lembrei do meu pai, atento à utilização da energia elétrica, com uma de suas frases emblemáticas. E também do tempo em que éramos uma família e vivíamos juntos.
Sim, juntos, um dia fomos um Festival de Luz Acesa!
Quando uníamos nossas forças, corpos e corações, imbuídos na escolha de sermos uma família. Com dificuldades, sonhos, ideias comuns – ou fora do comum, pois meus pais eram bem criativos rs.

E agora, separados há tanto tempo, por distâncias físicas e emocionais que de tempos em tempos parecem variar sem o nosso conhecimento, penso que sempre teremos a escolha de sermos um Festival de Luz Acesa.

Hoje, permita que sua luz interior se acenda, brilhe e ilumine – primeiro seus próprios passos, para que depois ela possa iluminar aqueles que estão à sua volta.

Gratidão ao meu núcleo familiar original, que me trouxe tanto amor, tanta luz e uma vontade enorme de honrar o potencial de sermos, em grupo ou individualmente, juntos ou separados, um festival de luz acesa. Sempre. E em qualquer lugar. Não é à toa que um dos projetos mais lindos do meu pai, na minha opinião, um dia se chamou Luzes da Cidade.

*enquanto escrevo estas linhas, percebo o entardecer chegar, o céu alaranjado se fundir com o azul, que aos poucos vai se tornando escuro, como se alguém lá fora também estivesse obedecendo aos pedidos do meu pai, para deixar, por ora, tudo apagado.

Photo by Todd Diemer on Unsplash



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